De repente, na vida que nos parecia sossegada e sem
atropelos, deparamo-nos com algo inesperado: sentimos que uma mão querida vai
ficando para trás, uma pegada que vinha unida vai se apagando ao lado da nossa,
ou vemos que uma mudança significativa vem alterar a dinâmica do nosso
caminho... Pessoas chegam em nossas vidas, pessoas se despedem de nós. De
repente, por exemplo, estamos sozinhos, sentindo-nos descalçados,
surpreendidos, assustados. É da lei toda essa movimentação. É da lei que as
coisas passem, que os ponteiros do relógio continuem correndo, que os corações
batam por um certo tempo, que os ciclos se cumpram, que as estrelas, sóis,
planetas, tudo, tudo, se movimente incessantemente. Não há como segurar o que
tem, por princípio, nos servir sutilmente e passar: seja uma alegria, que nos
preencha com suas branduras, seja um espinho que nos fira a pele, o sentimento.
Faz parte do amadurecimento compreender que assim correm os
dias, que assim se cumpre a vida, uma etapa após outra, e faz parte da madureza
espiritual dilatar o entendimento sobre a impermanência das coisas, a fim de
não intervirmos inapropriadamente no trânsito dos elementos que vêm ter conosco,
ou nas vontades alheias, aprendendo que cada coisa tem o seu tempo, cada
circunstância cumpre o seu próprio destino quando passa por nós.
É bem conhecido no meio espírita aquele episódio em que
Chico Xavier, passando por certas dificuldades que muito o consternavam,
perguntou ao mentor Emmanuel se lhe seria possível rogar às esferas superiores
um conselho de Maria de Nazaré, que o ajudasse naqueles dias tão difíceis. Passado
algum tempo, Emmanuel lhe traz a atenciosa resposta de Maria: “Isso também passa”.
Chico contou que essa pequena frase foi, para ele, como uma anestesia sobre a
imensa dor que sentia. Tanto bem ela lhe fez, que ele a escreveu num papelzinho
e a manteve sobre a cabeceira da cama, lendo-a todas as noites e manhãs. A um
amigo que, vendo o papel, também se interessou por copiar a frase, Chico
acrescentou: Não se esqueça de que Emmanuel também me disse que ela serve para
os momentos tristes, mas também para os alegres. [i]
A nossa própria estada no Planeta é coisa passageira, porque viemos da Pátria Espiritual e aqui apenas vivenciamos mais uma entre tantas experiências no plano material. Se somos assim passageiros, que diremos das dores e das alegrias que nos visitam de tempos em tempos? Diremos que são ainda mais efêmeras, se as olharmos com os amadurecidos olhos do Espírito imortal que somos, e não com a miopia de quem, esquecido da própria natureza, em uma circunstância menos doce só consegue ver algo de decepcionante ou triste, ou diante de outra carregada de significados mais profundos se coloca na posição do despreparado, ou injustiçado e subjugado pela dor.
A nossa própria estada no Planeta é coisa passageira, porque viemos da Pátria Espiritual e aqui apenas vivenciamos mais uma entre tantas experiências no plano material. Se somos assim passageiros, que diremos das dores e das alegrias que nos visitam de tempos em tempos? Diremos que são ainda mais efêmeras, se as olharmos com os amadurecidos olhos do Espírito imortal que somos, e não com a miopia de quem, esquecido da própria natureza, em uma circunstância menos doce só consegue ver algo de decepcionante ou triste, ou diante de outra carregada de significados mais profundos se coloca na posição do despreparado, ou injustiçado e subjugado pela dor.
É fácil, para nós, sentirmo-nos tristes com a saudade que
chega (e que tantas vezes retemos demoradamente nos divãs do peito). É fácil,
para nós, no estágio evolutivo em que nos encontramos, atender às sugestões da mágoa,
da decepção, da reclamação, do medo, do tédio, da irritação quando algo que
julgamos negativo esbarra em nós, ou promove uma mudança abrupta e não desejada
em nossas vidas... Contudo, precisamos aprender que muitos desses motivos, diante
dos quais nos desequilibramos, são também os que nos chegam para treinar nossa
capacidade de aceitação dinâmica, que dispara a nossa resiliência e as nossas enormes
possibilidades de superação e crescimento, pois eles são, em geral, promotores
de avanços e nos chamam para degraus mais altos na escada da maturidade e da compreensão.
É bem certo que tudo passa! Um antigo monarca, num reino
distante, desejoso de manter-se sempre em equilíbrio, intentou ter consigo algo
que o fizesse alegre, se se sentisse infeliz, e que o fizesse triste, quando se
sentisse feliz. Os sábios do reino lhe trouxeram, então, uma mensagem, colocada
dentro de uma pedra de anel, ressaltando que ele só deveria ler o que ali
estava escrito num momento da mais séria e profunda necessidade, num instante impossível
de ser tolerado, num momento em que sua agonia fosse imensa, quando, enfim, ele
estivesse absolutamente indefeso, esgotado e nada mais a sua mente lhe pudesse
sugerir para fazer. Pouco tempo depois, seu reino foi invadido por inimigos, e o
monarca precisou fugir para se manter vivo, passando por graves e sucessivos
perigos, mas encontrando novas maneiras de se salvar e continuar correndo,
lutando por sua vida. Em dado momento, cercado por todos os lados e sem
qualquer chance de escapar, sentiu, enfim, que era chegado o momento de ler o
que trazia dentro da pedra do anel, porque a condição para a consulta se achava
finalmente cumprida – o momento era plenamente trágico, e a necessidade,
francamente imperiosa. Abrindo o anel, leu estas palavras: “Isso também
passará”.
Sobre o coração daquele rei, como sobre o coração do Chico, fluidos
anestésicos e balsâmicos caíram do Alto, graças ao amparo misericordioso que sempre
haveremos de encontrar no nosso caminho. Assim, se agora sofremos, confiemos
que o amanhã será menos nebuloso e mais feliz, e que se a dor que nos toca nos parece
grande demais, ainda assim aprendamos a seguir firmes e esperançosos, porque
Deus nunca nos deixa desamparados nem sozinhos, como recita tão belamente o Espírito
Benigna da Cunha, pela psicografia amorosa do mesmo Chico:
“Nas agonias da estrada,
No fel de tormento infindo,
Não esmoreças por nada,
Espera, que Deus vem vindo.”[ii]